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Para quebrar o trauma. Boa. Eu desci a escadaria da Sucupira para descer a área, e eu sentia descendo a escadaria as pernas bambam, mas eu sustentei, eu banquei. E se botar a cara, vai tomar tiro. Está ligado? Sem...

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Demagogia, não é, meu amigo?

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Sem demagogia. Eu já olhei na cara do vagabundo, antes de morrer, e falei: Você pediu. A gente vai te dar o socorro, fique tranquilo. Está na mão de Deus. E eu tive uma ocorrência com menor de idade, que eu peguei ele em local público, com câmera, e ele olhou para mim e falou: A minha é da Tira e vocês levantou a camisa: não estou com nada, não estou com droga, não estou com arma, vai forjar para mim, vai armar para mim. Eu falei: Não, a gente nunca armou para ninguém, nunca vai armar para ninguém. Só que você não é o crime, você é o crime. Então seja homem, que a gente vai se bater de novo. E foi exatamente quatro dias depois. Ao vejer ele, deu o socorro, e antes de morrer, ele disse para mim: O senhor disse que a gente ia se ver de novo, não é? Eu me lembro da ocorrência como se fosse hoje, Foi o meu primeiro auto de resistência, mas me marcou muito, que eu vi jovem de 15 ou 16 anos de idade, ele ia ser pai, a mulher grávida. Inclusive, a mulher dele me denunciou na corrigedoria, e E ele falou para mim assim, ele estava em bar e a viatura ia passando em frente ao bar, eu só vim cara fazer a cara, botar a cabeça assim para ver a viatura e tirar.

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Eu estava como patrolero, que lá na Bahia tem o patrolero 1 e o patrolero 2, é quem fica no... O O motorista, o comandante, o patrolero 1 e o patrolero 2, é como é. E eu era o patrolero, eu estava do lado da janela, olhando no bar assim, eu só vim o cara botar a cabeça, olhar para a viatura e tirar. Aí falei para o meu comandante: Volta aí, irmão. Tem situação Porra, é foda. Eu não tenho o costume de beber, estou bebendo, é foda. Tem que ter cuidado de cadenciar muito o que a gente fala, porque a gente sabe que entre...

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Entre linhas é foda.

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Hoje, está tendo intercambio O que é o nome da rejeedoria? Bahia e São Paulo. Bahia e São Paulo. E aí eu peguei, entrei no bar, ele estava guardadinho assim no bar, eu entrei, pontei o fuzil para ele levantar aí, mano. Eu estou com nada não, velho. Estou com nada não, levantou a camisa. A minha datinha em polícia mesmo. Tinha uma câmera da SSP no posto do lado de fora, em frente a uma academia, uma academia até que é de policial lá no Nordeste. A minha datinha em polícia mesmo. Vejo o bicho com vocês, não tenho medo de vocês não. Não estou com nada aqui, vai forjar para mim? Eu falei: Não, a gente nunca forjou. Fique de boa, fique tranquilo. Olhai para a dona do bar e falei: Olha... Caralho, porque tem que cadenciar, porque tem muita covardia. Se eu encontrar alguma coisa dentro do seu bar, a senhora vai ser presa, e ela pode estar até assistindo, a senhora vai ser presa por alienação de menor. A droga que ele jogou dentro do seu bar, o estabelecimento é seu, quem Eu vou responder a você. O senhor está aqui, a droga, está aqui debaixo do caixa, ele jogou aqui saquinho de pino de cocaína.

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Eu olhei para a câmera, olhei para ele e falei: Você é corajoso mesmo, não é, irmão? Agora não chama a morte, não, porque E a vida dá voltas.

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E a morte vem quando chama.

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Lá na frente, a gente vai se bater. E eu me bati com ele, trocou o tiro com a gente, morreu, foi para o inferno, dentro de casa. A gente foi uma ocorrência que a gente chegou, estava com apoio do Graé com drone, e quando a gente botou a viatura, esses caras correram, o monitoramento, o drone foi avisando, a gente correu para tal hora. Quando a gente foi chegando na casa, você ainda viu ele correndo para dentro de casa, ele tirou a roupa, ficou nu, suada, falou: O velho, estou tomando banho porque vocês estão entrando em minha casa, nada, você correu da polícia. Aí ele de dentro de casa disse: Não, não corri, não, não corri, não. Falei: Abre a porta que eu vou entrar. E quando eu fui entrando, ele...

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Sacou.

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Não, pegou não, porque ele estava sem roupa. Está tomando banho.

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Pegou a arma ali do lado e encarou.

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E aí... Foi. E ele falou, antes de morrer, levando ele para viatura. Me lembro a mãe dele chorando, a mãe dele falando: Vocês mataram o meu neném, vocês mataram o Eu falei: Não, quem matou primeiro foi a senhora. A senhora ensinou o que é limite, seu filho não está no crime. Quando ele começou a apontar alguma coisa, a senhora botasse para fora de casa e falou: Você não é homem? Então vai correr atrás do seu pão. Porque aqui dentro da minha casa, a regra minha foi o que minha mãe fez comigo. Quando eu comecei a criar a gogó, minha mãe olhou para mim e falou: Você não acha que é homem? Eu falei: não, eu ainda dependo da bér. Então, aqui dentro, se eu como o feijão dela, eu tenho que...

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A regra tem que ser a dela. A regra tem que ser a dela.

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E eu falei: Ela quem matou o seu neném foi você. E era garoto novo, 16 anos. Eu não lembro se foi o meu primeiro auto de resistência, mas foi que me marcou. A mulher dele estava grávida e eu falei para a mulher dele: Aí provavelmente, esse neném que você está carregando aí amanhã vai estar trocando tiro com nós. Que a realidade é essa?

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A probabilidade é muito grande, infelizmente.

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Falei: Deu, você viu o que aconteceu com o seu companheira? Tenta usar esse exemplo para que o seu filho não vai seguir o mesmo caminho do pai. Semana depois, a gente passa lá ver as pichações, luto, vai com Deus, família, é nós, que não sei o quê, para aí, ama logo. Mas tive algumas ocorrências assim que marcaram, porque a gente vê como existe uma narcoideologia de pessoas que vivem dentro de comunidade e apoiam o tráfico de drogas. Apoiam, de forma contundente, de dizer E você não vai dizer assim: Não, é Estado paralelo. Às vezes o governo não é presente aqui, mas o traficante ajuda a gente com remédio, com gás, e aí cria uma convivência.

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Uma falsa, falso conforto.

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Exatamente. Só que ali, na verdade, o traficante Você já está fazendo aquilo porque não quero que você seja X9, nem cagoete. Ele não tem consideração nenhuma, porque se vier só uma conversa e que você é amiga de polícia, eu tenho parente de polícia, eles vão libertar. E esse pessoal que mora na comunidade, na favela, que apoia esse tipo de atitude, não sabe que amanhã, a hora que o vagabundo quiser falar: Vou tomar seu barraco.

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Tira ele, põe para fora, e já era.

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E acontece muito. Inclusive, acontece outras coisas também. Se ele vê você com alguma coisa lá que interessa a ele, ele rouba. E se não roubar, manda os outros roubar.

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Não, lá dentro do Nordeste, não rouba não. Isso aí eu posso dizer que seis anos de polícia eu não atendi uma ocorrência de roubo. Lá dentro do Nordeste, se robar, o tráfico mata. Roubo lá não tem. Não tem. Eu não atendi uma ocorrência de roubo. Eu, seis anos dentro do Nordeste, não atendi uma ocorrência de roubo. Aqui os caras- Mas aqui na área do BDM, tem, que é o braço direito do PCC de vocês aqui, mas no Comando Vermeer, eles têm essa parada aí. Dentro lá, não roba, não. Se robar lá dentro, os caras matam.

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E aqui, ele às vezes, não roba, mas passa para os outros robarem. O O que a população e as pessoas de bem têm que entender é que é o seguinte: ele talvez te favoreça, mas é com segundas intenções. A gente ouve relatos, inclusive, de pessoas quando a gente está no trabalho, de pessoas que moram perto de de ponto de tráfico de entorpecente, o cara fala assim: Chega aqui, meu muro aqui é baixo, eu quero aumentar o muro por causa do tráfico, e eu comprei material e eu tenho até amigo meu que estudou comigo na escola, ele fala que o muro da casa dele era baixo e tinha o tráfico ao lado. Aí ele falou: Eu tenho meus filhos aqui, fui comprar o material para poder aumentar o muro. E o traficante botou lá na casa dele e falou: Se você aumenta, não vai aumentar. Não, mas eu quero não vai aumentar, porque os caras usavam a casa dele como rota de fuga lá para poder fugir de nós, da Polícia.

[00:08:04]

O cara tem que se sujeitar à Isso aí.

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E aí eu te falo: Eu te pergunto se esse cara se opor, vai ter justiça?

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Ótimo que não.

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Os caras vão chegar e vão julgar ele do jeito correto ou o cara vai simplesmente lá, mata ele, tortura ele, estupra a família dele, faz o diabo, e o que acontece? Qual que é a pena para isso? Nada. Agora, se o policial der tapa na cara de alguém... O mundo vai. O vizinho lá, filma, vem, faz escândalo, fala, faz o que quer. E por que essas mesmas pessoas não se juntam contra o tráfico? Porque lá eles não têm pena. A pena deles lá, ele vai lá e mata, ele vai lá e tortura, vai lá e corta a deda e está tudo tranquilo, não acontece nada. Eu gostaria de falar pouquinho, deixa eu passar o comercial lá.

[00:08:48]

Maral, passa o comercial aí.